Anúncios de agências de viagens começam a ficar ainda mais freqüentes nesta época do ano, com a aproximação das férias. Hoje pela manhã assisti um anúncio oferecendo boas condições para uma viagem de uma semana no Perú. Daí surgiu a pergunta, o quê tem sido publicado sobre cardiopatia e altitude? Pacientes com doença arterial coronariana poderiam fazer este pacote e embarcar para o Perú?
O último número da revista High Altitude Medicine & Biology, especializada no tema traz um artigo muito interessante intitulado "
Can Patients with Coronary Heart Disease Go to High Altitude?". Neste artigo, fica claro que, apesar de não haver tanta literatura a respeito do tema, a avaliação de cada paciente antes de ser, ou não, liberado para esta viagem é muito importante. Sabe-se que em locais com maior altitude, a rarefação do ar pode reduzir o conteúdo arterial de oxigênio, reduzindo o aporte de oxigênio para o miocárdio. Em locais de maior altitude, mesmo durante o repouso, o consumo de oxigênio pelo miocárdio está aumentado, principalmente em indivíduos não aclimatados, ou seja, acostumados com esta condição. Apesar disto, estudos prévios já demonstraram que a permanência em locais com altitude até 3000 m é geralmente segura para pacientes coronariopatas. Nos primeiros dias após a chegada, pacientes com angina estável podem apresentar sintomas de isquemia miocárdica mesmo em esforços menores do que aqueles que usualmente desencadeariam tais sintomas ao nível do mar. Entretanto, a ocorrência de eventos cardíacos mais graves não é mais freqüente nos locais mais altos, a não ser naqueles indivíduos com capacidade física muito baixa. Assim, é interessante propor um programa de condicionamento físico supervisionado para estes pacientes precedendo a viagem. Viagens para locais com altitude de 3500m devem ser evitadas, a não ser para coronariopatas com angina estável, função ventricular preservada e boa capacidade aeróbica. Finalmente, mesmo com quadro clínico compensado, coronariopatas não devem viajar para locais acima de 4500 m de altitude.
Independente do quadro clínico e da altitude, fica o recado: coronariopatas não devem viajar para locais com altitude elevada sem avaliação médica prévia. A atenção para a disponibilidade de serviço médico no local também é essencial e não deve ser negligenciada. Boa viagem!